Sexta-feira, 27 de Novembro de 2009

Queres saber uma coisa?

imagem retirada net

 

 

Queres saber uma coisa? Vou contar-te uma coisa ao ouvido. É Uma coisa que nunca contei a ninguém e por isso vou contá-la muito baixinho…Não quero que se perca por ai, que se espalhe na brisa do fim da tarde, que desapareça no azul do céu… E tu, tu vais passar a ser especial: vais ser um guardador de segredos…

Vou contar-te que um dia uma luz entrou na minha vida e cobriu tudo de uma cor dourada. E aqueceu a minha alma e fez de mim uma mulher feliz. No momento não sabia o que era. Não sabia quem era. Não vi. Não importava nada também. Senti. Apenas senti um calor que me fez querer abrir os braços e deixar-me cair para trás gozando esse raro momento… Depois, algo me tocou com dedos feitos de seda e com esses dedos feitos de seda percorreu todo o meu corpo, cada centímetro de pele, cada fio de cabelo, uma pálpebra, depois outra, os meus lábios entreabertos. As palmas das minhas mãos, o meu pescoço. Era a melhor sensação do mundo! À minha volta tudo desapareceu. Tinha a paz comigo, dentro do meu corpo, dentro da minha alma. Não sabia que a tinha porque nesse momento não conhecia a angustia nem a dor, nem a tristeza, nem a amargura, nem a injustiça, nem nada que fosse o mal. Estava feliz. Depois tornei-me leve e o meu corpo deixou de existir. Olhei as minhas mãos e os meus braços, ergui-os à minha frente e foi como se não me tivesse mexido. Estava livre do corpo. Era apenas uma imagem de mim mesma. Não precisei de ficar ali deitada naquela cama, não precisei de ficar fechada naquele quarto. Atravessei ao tecto e não senti nada. Lá fora as estrelas brilhavam mais do que nunca a lua era tão grande que mal cabia no céu. Avancei livremente, a uma grande velocidade sem pressa. O tempo deixou de existir. Dancei e fui a melhor bailarina do mundo ao som da melodia mais bela do mundo. Estava feliz.

Depois abri os olhos e ali estavas tu. Em carne e osso. Mais real que nunca. E senti a pele da tua mão na pele da minha mão e senti o teu olhar cuidando que nada me faltasse. Senti o calor do teu amor por mim. Senti que jamais me abandonarias. Senti que me beijavas e a magia do beijo transformou-me para sempre. Deixei de ser eu. Deixei de ser apenas eu. O meu eu desapareceu e deu lugar a um eu dentro do teu eu. Agora somos nós. Só nós. Sou eu em ti. Foi assim que descobri que mais nenhum dia seria dia sem te ter por perto, que mais nenhuma noite seria noite sem te ter por perto. Foi assim que descobri que jamais serei feliz sem que sejas meu. Foi assim que descobri que a minha vida nunca tinha feito sentido e passou a fazer. foi assim que descobri que nada mais me dava prazer do que te ter. Sentir-te. Sentir-te. Sentir-te perto de mim, colado a mim. Nada mais era preciso para estar em paz. Apenas saber que estavas ali. Comigo. Em mim. Para mim.

Queres saber uma coisa? Foi assim que descobri que estava apaixonada por ti. Foi assim que descobri o amor… nunca te disse isto…mas agora estava na hora de te contar…prometes guardar este segredo com carinho? Talvez eu tenha sorte e tu tenhas um segredo igual para me contar…

 

 

 

Texto de ficção escrito para a Fábrica das Histórias por Cláudia Moreira

 

 

 

sinto-me: sonhadora
publicado por magnolia às 15:49
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Domingo, 8 de Novembro de 2009

Fábula

 

 

 Na floresta os ursos trabalhavam afincadamente na construção de uma nova aldeia. O urso maior e mais velho estava sentado numa pequena colina e conseguia ver tudo o que se passava durante a construção da sua aldeia. Os ursos mais novos carregavam os troncos que os mais velhos cortavam. O urso maior e mais velho comandava todas as operações e não admitia que ninguém lhe dissesse como proceder. Nem mesmo a sua esposa de muitos anos, a ursa maior e mais velha podia dizer-lhe como fazer sem que ele ficasse muito zangado. Mas mesmo assim ela dizia.

- Urso maior, sabes bem que as ursas trabalham o mesmo que os ursos e é justo que recebam a mesma retribuição que os ursos.

- As ursas só trabalham porque quererem. Se não querem assim, vão para casa lavar e passar.

- Estás a ser injusto urso maior…. Está a ser injusto…

Mas ele não queria saber disso para nada e continuava a comandar a sua aldeia assim. Os ursos recebiam uma retribuição e as ursas uma mais pequena. Dizia que as ursas não valiam a mesma coisa que os ursos. Eram seres menores. A ursa maior e mais velha ficava muito zangada, mas ele é que era o chefe e não podia ir de encontro às suas ordens.

Mas um dia aconteceu algo que a fez ficar feliz, silenciosamente feliz: as ursas revoltaram-se contra esta situação!

- Urso maior e mais velho, não é justo eu trabalhemos tanto como os ursos e recebamos menos! Também não é justo que depois de trabalhar aqui tenhamos que ir para casa tratar dos filhos sozinhas, arrumar as nossas casas sozinhas, tratar de tudo sozinhas enquanto os ursos ficam sentados na conversa uns com os outros ou em casa deitados a descansar!

- Vocês é que escolheram vir trabalhar aqui, ninguém vos obriga!

- Urso maior e mais velho, vocês precisam da nossa ajuda, precisam do nosso trabalho…

- Nenhum urso precisam da ajuda de ma ursa! Nenhum!

As ursas não ficaram nada satisfeitas com o desfecho desta conversa. Resolveram reunir-se ao fim do dia para decidir o que fazer. E quando o fim do dia chegou, a maioria delas sabia no seu coração o que queria fazer.

- Vamos mostrar-lhe que eles precisam mesmo de nós.

- Isso mesmo!

No dia seguinte os ursos acordaram e não tinham pequeno- almoço. Depois chegaram ao trabalho na aldeia e nenhuma delas tinha vindo trabalhar. Encolheram os ombros e acharam que a birrazinha delas depressa iria ter que passar. No entanto o dia começou a passar e o trabalho estava atrasado. Não conseguiram fazer sequer metade do habitual num dia de trabalho. Começaram a ficar preocupados.

- Onde é que elas andarão?

. Não sei, não faço ideia nenhum…~

 E encolhiam os ombros, mas uma pontinha de preocupação estava presente nos seus olhares.

Depois, já o dia estava no fim, foram para casa. As ursas estavam cá fora a brincar com os filhos. Não saia fumo da chaminé e não cheirava a jantar. Dentro de casa estava tudo desarrumado e frio, o fogão estava apagado, e a mesa não estava posta.

- O jantar?

- As coisas estão na despensa.

A ursa não mostrou intenções de se levantar. O urso mal podia acreditar que elas realmente estavam a insistir naquela pequena birra.

- Não vais fazer o jantar?

- Não. Vocês dizem que não precisam de nós para nada.

E ele fanfarrão:

- E não precisamos!

No entanto, sabia que precisava. No dia seguinte todos os ursos contaram experiencias semelhantes. Todos os ursos estavam sem tomar o pequeno-almoço e as roupas que usavam estavam amarrotadas. O dia não correu bem, as ursas faziam falta. Eram muito menos braços para trabalhar. Não conseguiram adiantar quase nada. E no dia seguinte também não. E no outro seguinte também não. E nenhum dos dias seguintes correu bem. Os ursos tinham a obra atrasada e estavam quase na época das chuvas. Era preciso andar mais depressa. O urso maior e mais velho estava furioso com as ursas. Mandou-as chamar!

- Vocês têm que voltar ao trabalho!

- Só se nos derem o reconhecimento que merecemos! Queremos salário igual. É o mínimo que podem fazer!

- Vocês têm que voltar ao trabalho e tudo como estava antes!

Estava furioso. Estava mesmo muito furioso!

- Só voltaremos se nos derem salário igual.

O urso maior e mais velho estava mesmo furioso, mas não teve outra hipótese e concordou. Teve mesmo que concordar. O trabalho era muito e precisam de todos os braços disponíveis. A ursa maior e mais velha estava contente. Tinha sido feita justiça finalmente. As ursas trabalhavam tanto e nunca tinham sido reconhecidas. Talvez agora os ursos lhes dessem mais valor, talvez as ajudassem mais em casa. Talvez tudo agora corresse melhor. Tinha que confiar que aos poucos as coisas iriam mudar ali na floresta e que aos poucos a igualdade seria uma realidade.

 

Texto ficcionado para a fábrica de histórias por Cláudia Moreira

 

 

sinto-me: :)
publicado por magnolia às 23:51
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