Sábado, 23 de Janeiro de 2010

Uma segunda-feira como outra qualquer...ou não!

 

 

imagem retirada da net

 

 

Quando o despertador me acordou eu não imaginei tudo o que iria acontecer naquele dia. Antes pelo contrário, imaginei mais uma monótona segunda-feira no escritório, onde o curso das rotinas seguiria sem qualquer alteração. Só este pensamento me fez fazer uma careta. Como detestei sempre a rotina e as coisas normais! Mas fui obrigada a saltar da cama, tomar banho rapidamente e sair para a rua, porque não queria de todo chegar atrasada logo à segunda-feira.

Na rua não vi o meu carro no sítio do costume e assustei-me. Depois lembrei-me que o tinha deixado em frente ao restaurante onde tinha jantado na noite anterior. Não o tinha querido trazer devido aos dois copos de champanhe que tinha bebido em brindes sucessivos aos amigos que casariam dali a poucos dias. Por isso aproveitei boleia do Jorge e deixei  o carro no restaurante.

Já tinha a mão levantada para chamar um táxi quando vi o Jorge. Jorge é o meu namorado e gosto de pensar que um dia será meu marido. Sei que fiz uma cara estranha porque ele riu-se e fez-me sinal para entrar. Explicou-me que me daria boleia para o escritório uma vez que sabia que eu estava sem carro. Fiquei contente porque já estava ligeiramente atrasada e se tivesse que esperar pelo táxi seria bem pior.

Foi mais ou menos dez minutos depois que me apercebi que não estávamos a caminho do escritório. Fiquei aflita, mas o Jorge mandou-me calar com um sorriso encantador. Desarmou-me, sem contudo me deixar tranquila. Mais um minuto e eu voltámos a tentar falar, mas mais uma vez ele voltou a mandar-me calar com um shiu ruidoso e um erguer de sobrancelhas engraçado. Por esta altura já estávamos a entrar na auto-estrada e eu a pensar que o meu atinadinho namorado tinha perdido a cabeça de vez! Suspirei e tentei perceber o que se estaria a passar ali. Jorge continuava a sorrir como se nada do que estava a acontecer fosse estranho. Eu confesso que naquela altura já estava seriamente preocupada. No entanto não quis parecer histérica e a com a voz mais calma do mundo tentei perguntar novamente o que se estava a passar. Mas o Jorge continuava alegremente misterioso, o que me estava a incomodar ainda mais. Isto nem sequer era do feitio dele! Costumava ser sempre tão certinho e responsável…

Foi mais ou menos por essa altura que saímos em direcção a Aveiro e eu já muda de aborrecimento e preocupação deixei-me ir sem refilar. Estacionamos perto da ria e ele convidou-me a sair. O tempo estava ligeiramente encoberto sem estar no entanto desagradável. Ele deu-me a mão a sorriu. Creio que lhe estava a dar um certo gozo a minha cara de aflição. Caminhamos em direcção à ponte pequena mesmo no centro da cidade, mas antes de lá chegar paramos perto de um dos moliceiros. O colorido barco estava enfeitado com grinaldas de flores frescas e o dono do barco fez-me sinal para entrar. Eu cada vez entendia menos. A que propósito é que haveríamos de passear num moliceiro a uma segunda-feira de manha cedo? Estava absolutamente atónita com tudo o que estava a acontecer. Entramos no barco os dois e o comandante da pequena embarcação manobrou-a com destreza para o meio da ria. Andamos uns metros calados embora eu tivesse mil perguntas para fazer! E ele sempre de sorriso colado na boca…

Foi então que os vi a todos dentro de um outro moliceiro cheios de grinaldas de flores. Uns metros à frente estavam dez ou doze dos nossos amigos que tinham estado no jantar da noite anterior. Bateram palmas à nossa chegada e eu não consegui articular nenhuma palavra. Estava estupefacta!

- Querida…queres casar comigo?

Sem eu dar conta ele tinha tirado um anel do bolso. Um belíssimo anel de noivado!

- Então meu amor? Não dizes nada….

Eu não conseguia. Estava aflita, admirada, feliz, preocupada, num misto de sentimentos que não conseguia controlar.

Depois disse sim. Claro que disse sim. E depois, bem mais tarde, Jorge explicou-me que depois do jantar de noivado dos nossos amigos só conseguiu pensar em pedir-me em casamento e viver comigo para sempre. Depois tomou a decisão que não podia esperar nem mais um dia e por isso tinha passado a noite em claro a preparar tudo. Tinha ido falar com os donos dos moliceiros, tinha tido que arranjar maneira de conseguir um anel de noite, e ainda de arranjar forma de eu não precisar de ir trabalhar nesse dia. Foi uma grande corrida contra o tempo, mas a verdade é que contra todas as expectativas ele conseguiu pedir-me em casamento. E eu aceitei. E casamos. E posso dizer que somos felizes…e que nunca esquecerei aquela segunda-feira que supostamente era uma segunda-feira como outra qualquer…

 

Texto de ficção escrito por Cláudia Moreira para a Fábrica de Histórias.

 

sinto-me: nem sei...
publicado por magnolia às 22:10
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Domingo, 17 de Janeiro de 2010

Memórias

 

 

Desde sempre tive a mania de guardar coisas. Comprei várias caixas de vários tamanhos e feitios e cores e baptizei-as com o nome de caixas das tralhas.

É claro que não são tralhas, são recordações, memórias na forma de objectos, pedaços de mim. Passa-se muito tempo que nem sequer lhes toco, mas o facto de ali estarem sossega-me, deixa-me tranquila porque sei que aquela parte do meu passado continua a pertencer-me e não me irei esquecer dela quando a idade me começar a atraiçoar. Ninguém me pode roubar estas memórias.

Ontem estava a arrumar o armário onde guardo parte dessas caixas e uma dela caiu-me no chão, abrindo-se e espalhando parte do seu conteúdo. Baixei-me para começar a apanhar as coisas e arruma­-las no sítio, mas em vez disso sentei-me no chão e comecei a pegar em cada uma das coisas com um cuidado quase religioso, a ver se tudo estava intacto e ao mesmo tempo obedecendo ao chamamento irresistível de lembrar o passado.

Naquela caixa guardo todas as coisas especiais que fizeram parte duma parte especial da minha vida: o meu primeiro grande amor.

Dentro da caixa repousam bilhetes de comboio das viagens que fiz para o ver, antigas cassetes de música que só ele ouvia, cadernos cobertos de palavras a contar histórias, sentimentos, emoções e pequenos nadas que eram tudo naquela altura. Eu não devia ter mexido na caixa, eu não devia ter sequer ido ao armário sabendo que podia ver a caixa, porque a verdade é que eu já sabia como ia terminar a noite.

Confesso que sempre que mexo nas caixas das tralhas fico deprimida e por isso deveria evitar mexer nelas, mas de vez em quando o apelo é demasiado forte. É como se a minha mente, inconscientemente, me levasse até ela, como se fosse vital não deixar morrer estas memórias. Memorias que contam a minha vida, que contam como cresci, como me tornei mulher.

A história terminou mal. Sofri. Chorei. Sofri muito. Chorei. Não pudemos ficar juntos. Eu era demasiado nova e ele muito mais velho. Eu era demasiado inocente e ele tinha demasiado a perder. Eu era pobre e ele não. Eu era apenas uma menina com ânsias de ser mulher que adorava um homem que não me podia fazer feliz.

Peguei nas coisas do chão, uma a uma, com muito cuidado. Um soluço preso na garganta e os olhos a arder. Bastava apenas um click para despoletar um manancial de lágrimas.

Estranho. Tantos anos se passaram, tantas rugas na minha cara, cabelos brancos na minha cabeça e ainda me fazia sofrer. Já não há amor. Apenas uma mágoa profunda que continua a fazer-me sofrer. Apenas um reviver de uma situação que doeu. Sofrimento. Dor. Frustração. Paixão. Amor. Tanta coisa. Ficou tudo dentro de mim. Ficou a marca indelével de um grande amor.

Coloquei a tampa na caixa, guardei-a no armário. Limpei as lágrimas. Fechei a porta. Virei as costas e ergui a cabeça, afinal as memórias são muito importantes, mas a vida é agora. 

sinto-me: :/
publicado por magnolia às 23:41
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