imagem retirada da net
Naquele primeiro encontro eu não sabia lá muito bem o que esperar do Francisco. Falamos algumas vezes no bar da empresa, mas confesso que não estava muito esperançada. Ele era assim um pouco calado e tinha ar de quem passa muito tempo atrás de um monitor de computador. Mas como me convidou com o seu melhor sorriso, aceitei. Combinamos para sábado. Já estava a pensar que roupa haveria de vestir, atendendo a que não sabia a que restaurante me levaria quando ele me diz que vamos sair de manhã. A minha cara deve ter dito tudo, porque ele se desmanchou a rir.
- De manhã Francisco? Onde vamos?
- Vamos conhecer o lugar mais bonito do mundo!
Deixei-me ir sem muitas perguntas. Não sei bem porquê, mas confiava nele. Veio buscar-me de manhã cedinho e fomos estrada acima, sempre para Norte, o mar azul e o sol a servir-nos sempre de companhia. Foi já muitos quilómetros depois que me pediu uma coisa estranhíssima, pediu se poderia vendar-me os olhos para me fazer uma surpresa! Uma quantidade enorme de pensamentos estranhos invadiu a minha cabeça, mas concordei. Já que tinha vindo até ali, iria até ao fim. E fiz bem, porque no momento em que o Francisco me tirou a venda e vi a paisagem, fiquei sem palavras, tal era a beleza do lugar…
Estávamos num promontório. O mar azul, imenso, belo, estava a ali a perder de vista. A linha do horizonte mal se via tal era a intensidade do azul do céu. O sol derramava os seus raios brilhantes no mar, transformando as pequenas ondas em milhões de diamantes cintilantes. À minha frente ficava um pequeno miradouro feito de madeira já velha, um pouco carcomida pelo tempo. O chão estava sulcado de erva fresca e verde e aqui e ali florzinhas amarelas e lilases coloriam o chão. Um cheiro doce chegou-me às narinas e depressa me apercebi que eram madressilvas. Olhei para o lado e lá estavam alguns arbustos cobertos de madressilvas cheirosas. Pequenos pássaros cinzentos cruzavam o céu e de vez em quando uma gaivota assomava perto da arriba soltando os seus gritinhos agudos. O calor do sol aquecia-me a pele, e uma ligeira brisa afagava-me os cabelos e fazia dançar o meu vestido primaveril. Aproximei-me da arriba e encostei-me à vedação. Lá em baixo podia ver as ondas a rebentar furiosamente nas rochas, fazendo saltar espuma branca para todo o lado. Ao longe uma praia de areia branca e completamente isolada convidava a devaneios de verão. Que vontade de ir até lá, despir o vestido e entrar nas aguas azuis e frescas do mar.
Quando me voltei, Francisco tinha posto uma manta de trapos no chão, uma toalha de quadrados brancos e vermelhos em cima e esperava por mim para o almoço. Quando me aproximei, estendeu-me a mão e ajudou-me a sentar. Na cestinha de pic-nic feita em palhinha, trazia frutas da época deliciosas e champanhe. Conversamos, rimos, brincamos e a tarde passou tão depressa que nem me dei conta. O sol já estava com vontade de se esconder, o céu ficou laranja, rosa, coral, tantas cores, transformando-o num quadro digno de estar no Louvre. Andei até à vedação para me poder deliciar com aquela imagem. Uma brisa mais fresca fez-me estremecer. Nesse instante dei-me conta que o Francisco estava atrás de mim e me punha o casaco dele pelas costas. Ficamos assim, muito próximos, a olhar o mar, o sol a pôr-se devagarinho, desaparecendo aos poucos atrás das águas, sentindo-me tão tranquila, tão em paz que não tinha a mínima vontade de sair dali. E foi precisamente neste instante que nos olhamos nos olhos por um momento esquecendo tudo em volta, e aproximamos os nossos lábios num beijo tão ternurento e tão intenso que nada mais nos importou. Foi o primeiro dia do resto das nossas vidas e aquele lugar é o lugar mais perfeito ao cimo da terra. Ainda hoje, passados tantos anos, vamos lá em passeio a todo o instante e todas as vezes selamos o nosso amor com um beijo ternurento e intenso junto à vedação com vista para o mar.
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