imagem retirada da net
Um dia mandaram-me caminhar. Não me disseram qual o caminho a percorrer, nem por quanto tempo o deveria fazer. Disseram-me apenas: caminha. E eu caminhei.
Tem sido longo este caminho e embora saiba que terá um fim, não sei onde é, nem quanto tempo demorarei a chegar lá.
Ando há alguns anos a caminhar e o caminho, embora sempre o mesmo, não é sempre igual, nem sequer é em linha recta. Já tenho feito curvas apertadas, descidas íngremes e subidas acentuadas. Já tenho caminhado debaixo do sol abrasador, sem uma árvore de copa frondosa para me proteger, sem uma sombra que seja. O chão árido da seca que me faz sufocar com a poeira que levanto com os pés. A chuva que cai em dias de Inverno molhando as arvores nuas, as ervas daninhas e os muros tristes de pedra cinzenta e o meu corpo cansado.
Por vezes o caminho torna-se mais fácil, mais bonito. Quando caminho junto ao mar, sentido na pela a brisa do mar e ouvindo os gritinhos das gaivotas em namoro eterno. Olho o por do sol e sinto que vale a pena continuar a caminhar. Outras vezes passo em caminhos esquecidos, de terra batida, onde o cheiro das madressilvas é tão intenso que apaga o cheiro da terra, e as silvas que ladeiam os caminhos estão carregadas de amoras doces e frescas.
Cruzo-me com muita gente no meu caminho. Muita gente se cruza comigo. As vezes vejo gente num caminho parecido com o meu, paralelo, outras vezes apenas me cruzo com pessoas e de relance as cumprimento. Há ainda quem me acompanhe desde sempre e para sempre. Irei perder gente pelo caminho, gente cansada que encontrou por fim o seu destino, o seu lugar. Um dia será a minha vez.
Neste instante caminho numa estrada esburacada, e é difícil de ultrapassar os obstáculos, de contornar os buracos para não cair, tenho de estar atenta. Estou cansada porque caminho há já muito tempo com um fardo pesado nas costas. Mas não vou sozinha. Há outros caminhantes, outros que me vão amparando e a quem também vou ajudando. Olho para o céu e vejo-o azul, algumas nuvens salpicam-no de branco e o sol brilha radioso lá no alto. As árvores que ladeiam a estrada são altas e belas, de copas verdes e frondosas. Os dentes-de-leão e as miosótis crescem nas bermas sem licença, as ervinhas e os fetos também, transformando a terra numa festa de cor. Os pássaros cantam nas árvores e fazem ninho. E os pinheiros mansos que cheiram a resina deixam cair as pinhas repletas de pinhões saborosos. Olho o céu, e a terra e as pessoas que caminham comigo e penso que este é um caminho que vale a pena fazer…
Ficção para a Fábrica de Histórias
Autora: Eu própria, Cláudia Moreira
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