Domingo, 4 de Janeiro de 2009

Doze desejos

imagem da net

 

12, 11, 10, 9, 8... a contagem avançava demasiado depressa. Nem teria tempo de pedir os desejos. 7, 6, 5, 4....”quero mudar de emprego, quero ter uma casa minha”  3,2,1! Feliz ano novo! As pessoas à sua volta gritavam, riam, brindavam.

“quero ser feliz”- foi o seu pensamento derradeiro na ultima badalada da meia noite que anunciou o novo ano.

E queria mesmo. Estava infeliz, demasiado. Preso num casamento de conveniência, num emprego de que não gostava, a viver numa cidade deprimente.

Fechou os olhos e no momento seguinte os 12 desejos surgiram na sua cabeça como se sempre lá tivessem estado.

- sair de casa

- despedir-se

- mudar de cidade

- estudar de novo

- encontrar a mulher especial da sua vida

- fazer uma longa viagem

- passar mais tempo com os seus pais

- rever os amigos de quem se afastou

- ter força para enfrentar a vida com alegria

- amar e ser amado verdadeiramente

- fazer algo pelos outros

- aprender a ser feliz

 Era tudo tão evidente. Bastava pegar nas rédeas da sua vida e alterar o curso dos acontecimentos. Fazer algo por si próprio. Já era tempo de mais a viver uma vida de mentira. De repente sentiu-se tão oprimido com a ideia de não ser capaz que até lhe doeu o peito. Levantou-se, e ainda não tinham passado cinco minutos da meia-noite quando anunciou em voz alta que se iria embora. Todos os convidados que estavam lá em casa a passar a meia-noite se viraram surpreendidos. A mulher olhou-o, melhor, fulminou-o com o olhar.

- É verdade. Vou embora de casa e do emprego. Vou ser feliz.

Ninguém queria acreditar que um homem bem casado e director numa empresa de sucesso estivesse a falar a sério. Creio mesmo que só a mulher acreditou que era real aquela cena e não efeito do champanhe da meia-noite. Ela sabia que ele não era feliz, há muito que o sabia. Só não esperava que o fizesse num momento como aquele, e ainda por cima com tantos desconhecidos em casa.

Mas ele não se riu. Olhou a sala cheia de gente que nada lhe dizia, a maioria clientes da empresa e família afastada da mulher, olhou uma ultima vez e virou costas.

No ano seguinte à meia-noite, ele estava sentada muito tranquilo numa sala aquecida por uma lareira crepitante. Na mão uma taça de champanhe e na outra a mão da mulher da sua vida. Encontrara-a no aeroporto, quando rumava a África em missão da cruz vermelha. Depois, juntos, escolheram Nova York para fixar residência. E agora viviam os dois, num pequeno apartamento nos subúrbios. Vivam juntos há seis meses e eram felizes. Não tinham dinheiro, nem posição social, mas tinham-se um ao outro, faziam o que gostavam de fazer e tinham amigos sinceros. A missão em África ensinara-os o valor das coisas, o valor da ajuda, valor da amizade, o valor da paz.

Ele suspirou um suspiro profundo e cheio de significado e disse:

- Feliz ano novo, mulher da minha vida!

 

Texto de ficção para a "Fábrica das histórias",

Autora: Cláudia Moreira

 

 

 

 

 

 

 

 


 


 

sinto-me: a pensar na vida
publicado por magnolia às 15:41
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6 comentários:
De Alexandrino Sousa a 4 de Janeiro de 2009
Bonito texto Claudia...
Quantas vezes nos falta a determinação para finalmente mudarmos de vida, encerrar um capítulo...

Beijinhos
Alex
De magnolia a 6 de Janeiro de 2009
Acho que é sempre a falta de determinação que nos impede de seguir a nossa vida, de lhe dar um novo rumo...

Ainda bem que gostaste Alex,


Beijinhos
De agoradigoeu a 5 de Janeiro de 2009
Bonita história,
igual a muitas realidades.
Parabéns pelo texto.
Beijos
norberto
De magnolia a 6 de Janeiro de 2009
Obrigada Norberto:)

Não dgo que não seja possivel acontecer....acho que era bom que acontecesse.

Beijinhos
De crazymama a 6 de Janeiro de 2009
Olá,

Gostei do teu texto.
É difícil trocarmos o certo pelo incerto, mas na procura da Felicidade, às vezes a ruptura é iminente...e há quem tenha coragem para a assumir.
Ainda ontem falava de uma amiga, proveniente de uma família abastada que decidiu partir em missões humanitárias. O mais fácil seria ter ficado na empresa do pai, mas ela não ía ser feliz assim! Não tem filhos mas é ligada à família, no entanto decidiu partir...Também ela, pelos vistos encontrou um Companheiro e duvido que algum dia volte, para viver em Portugal!

Beijinhos
De magnolia a 6 de Janeiro de 2009
Olá Crazymama,

Parece então que a ficção tem semelhanças com a realidade...quer dizer que ainda há esperança para a humanidade...

Um grande beijinho para ti.

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