imagem da net
12, 11, 10, 9, 8... a contagem avançava demasiado depressa. Nem teria tempo de pedir os desejos. 7, 6, 5, 4....”quero mudar de emprego, quero ter uma casa minha” 3,2,1! Feliz ano novo! As pessoas à sua volta gritavam, riam, brindavam.
“quero ser feliz”- foi o seu pensamento derradeiro na ultima badalada da meia noite que anunciou o novo ano.
E queria mesmo. Estava infeliz, demasiado. Preso num casamento de conveniência, num emprego de que não gostava, a viver numa cidade deprimente.
Fechou os olhos e no momento seguinte os 12 desejos surgiram na sua cabeça como se sempre lá tivessem estado.
- sair de casa
- despedir-se
- mudar de cidade
- estudar de novo
- encontrar a mulher especial da sua vida
- fazer uma longa viagem
- passar mais tempo com os seus pais
- rever os amigos de quem se afastou
- ter força para enfrentar a vida com alegria
- amar e ser amado verdadeiramente
- fazer algo pelos outros
- aprender a ser feliz
Era tudo tão evidente. Bastava pegar nas rédeas da sua vida e alterar o curso dos acontecimentos. Fazer algo por si próprio. Já era tempo de mais a viver uma vida de mentira. De repente sentiu-se tão oprimido com a ideia de não ser capaz que até lhe doeu o peito. Levantou-se, e ainda não tinham passado cinco minutos da meia-noite quando anunciou em voz alta que se iria embora. Todos os convidados que estavam lá em casa a passar a meia-noite se viraram surpreendidos. A mulher olhou-o, melhor, fulminou-o com o olhar.
- É verdade. Vou embora de casa e do emprego. Vou ser feliz.
Ninguém queria acreditar que um homem bem casado e director numa empresa de sucesso estivesse a falar a sério. Creio mesmo que só a mulher acreditou que era real aquela cena e não efeito do champanhe da meia-noite. Ela sabia que ele não era feliz, há muito que o sabia. Só não esperava que o fizesse num momento como aquele, e ainda por cima com tantos desconhecidos em casa.
Mas ele não se riu. Olhou a sala cheia de gente que nada lhe dizia, a maioria clientes da empresa e família afastada da mulher, olhou uma ultima vez e virou costas.
No ano seguinte à meia-noite, ele estava sentada muito tranquilo numa sala aquecida por uma lareira crepitante. Na mão uma taça de champanhe e na outra a mão da mulher da sua vida. Encontrara-a no aeroporto, quando rumava a África em missão da cruz vermelha. Depois, juntos, escolheram Nova York para fixar residência. E agora viviam os dois, num pequeno apartamento nos subúrbios. Vivam juntos há seis meses e eram felizes. Não tinham dinheiro, nem posição social, mas tinham-se um ao outro, faziam o que gostavam de fazer e tinham amigos sinceros. A missão em África ensinara-os o valor das coisas, o valor da ajuda, valor da amizade, o valor da paz.
Ele suspirou um suspiro profundo e cheio de significado e disse:
- Feliz ano novo, mulher da minha vida!
Texto de ficção para a "Fábrica das histórias",
Autora: Cláudia Moreira
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Hoje...
. Isa
. Não há amor como o primei...