imagem retirada da net
Uma luz suave desceu sobre mim e envolveu-me de uma forma inesperada. Fechei os olhos e senti a suavidade da seda no rosto e uma paz no coração como nunca tinha sentido antes. Deixei-me embalar pela melodia que parecia ser tocada por anjos e todos os maus pensamentos desapareceram. Estava em paz.
Não sei quanto tempo estive assim, talvez um segundo, talvez umas horas, não sei. Sei que quando saí daquele torpor, pensando que deveria ter passado pelo sono, vi aquela luz subir acima da minha cabeça e uma força irresistível impeliu-me a segui-la. Não tinha sido um sonho afinal.
Atravessei ruas e travessas, sempre seguindo aquela estrela, subi montes e atravessei rios. Não sei quanto tempo caminhei. Tive tempo de pensar que era uma alucinação e deveria estar maluca seguindo uma estrela por montes e vales. Já nem sequer sabia onde estava. No entanto a mesma força continuava a fazer-me andar, sem sequer sentir cansaço algum. Estava frio, mas não o sentia, apenas via o vapor que saia da minha boca. Tinha deixado tudo para trás, casaco, carteira, tudo. Há quanto tempo estaria a caminhar? A paisagem ia mudando, vi pessoas nas bermas das ruas que me olhavam desconfiadas, os gatos seguiam-me durante um pedaço de caminho. Será que também viam a minha estrela? Não viam, sei-o agora. Estavam era espantados com uma mulher que seguia algo que não viam, sem casaco, e sapatos de salto alto em pleno Inverno…
Finalmente a estrela parou. Ficou ali, a pairar sobre algo que eu não via. O seu brilho foi aumentado gradualmente à medida que me aproximava dela. Foi descendo devagarinho, até que ficou a pairar tão baixinho que quase tocava no chão. Aproximei-me a medo. Estava no meio de um pinhal. O cheiro intenso a resina entrava-me pelas narinas e os pequenos ramos partiam-se, estalando debaixo dos meus pés. A claridade era tão intensa que me obrigava a semi-cerrar os olhos. Aos poucos fui-me habituando àquela luz, e pude então aperceber-me do que me rodeava. Já era de noite, a escuridão envolvia-me a mim e à minha estrela. As árvores balançavam com o vento frio do norte e a vegetação rasteira fazia-me cócegas nas pernas. Os pássaros estavam calados, já recolhidos para a noite. Nada perturbava o silêncio da noite. Eu cismava no motivo que me trouxera ali. Seguira uma estrela. Estaria louca? Onde estaria? Não fazia a mínima ideia.
Foi mais ou menos nesta altura que as minhas reflexões foram interrompidas por um choro de criança pequena. Ouvi com mais atenção e lá estava o choro de novo. Esforcei a vista e pude perceber algo encostado a um pinheiro manso. Era uma alcofa. Mal acreditando, corri para lá e o meu coração deu um pulo. Um bebé pequenino, quase recém-nascido estava ali, envolto em mantinhas azuis e fazendo beicinho, numa tentativa de choro. Meu deus! Que faria ali um bebé no meio do bosque? Olhei para a estrela e a sua luz estava agora mais intensa que nunca. Peguei na criança e vi que estava bem, mas com fome. A sua boquinha reclamava o peito de uma mãe. Infelizmente isso não poderia dar-lhe. Mil perguntas enchiam a minha cabeça mas agora não teria tempo de as responder. Precisava urgentemente de encontrar alguém, uma casa aquecida, um hospital, não importava, precisava era de encontrar algo para dar de comer ao bebé. Olhei a estrela que continuava a pairar em cima de mim e mudamente lhe pedi que me guiasse novamente. Como se me tivesse ouvido começou a avançar lentamente. Eu segui-a o mais depressa que pude, levando num braço o menino e na outra a alcofa. Algum tempo depois avistei uma casa onde podia ver uma janela com luzes acesas lá dentro. Olhei a estrela em sinal de agradecimento, mas ela não esperou, subiu lentamente ao céu, misturando-se com as outras estrelas suas irmãs.
- Obrigada, Estrela Guia. - E sorri.
Hoje esse menino é meu filho. Nunca se descobriu quem o deixou naquele bosque. Nunca ninguém o reclamou. Não importa, é meu e não deixarei nunca que nada de mal lhe aconteça.
A estrela? Essa nunca mais a vi, ou melhor, devo ter visto, mas no meio de tantas que povoam o céu, não sou capaz de a distinguir. Se calhar nem houve estrela nenhuma, pelo menos ninguém acreditou na minha história1 Não importa. Eu sei o que vi, sei o que senti, sei o presente que me trouxe. Foi um milagre, gosto de pensar. O meu milagre. O milagre que me trouxe o meu filho querido. E isso, por muito tempo que passe, ninguém me pode tirar…
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