…jamais te deixarei ir. Acredita que é verdade que jamais te deixarei ir embora. Não sabes o tempo que estive à tua espera, a falta que me fizeste… Não penses portanto que te deixo ir embora assim facilmente…
Andei a sonhar com um príncipe, a fabricá-lo na minha cabeça durante anos a fio. Usava o tempo perdido das viagens que fazia entre minha casa e o emprego e entre o emprego e a minha casa para isso. Levava comigo um livro, um caderno, um papel, onde anotava todas as coisas que me iam passando pela cabeça. Pensamentos, ideias, coisas que imaginava. Sabia como seria o meu príncipe, a cor dos olhos, do cabelo, a maneira como me falaria a primeira vez e até mesmo o que me diria. Sabia também como seria o nosso primeiro beijo. Estava tudo absolutamente claro na minha cabeça. No entanto, estive à tua espera tanto tempo e nunca vieste. Um dia desisti de te procurar. Desisti. Porque ninguém consegue ficar à espera tanto tempo de algo que não existe.
Foi depois, numa noite escura de Inverno em que nos juntamos todos para jantar como tantas outras vezes, que te vi a primeira vez. Isto não é verdade dirás tu. E dirás isso porque já nos conhecíamos há algum tempo, socializávamos, conversávamos. Mas eu nunca te tinha visto. Nem tu a mim. E a verdade é que mesmo muito tempo depois, muitos dias, muitos meses, anos até depois de te ter visto, tu não ainda não me tinhas visto. Foram precisos muitos jantares, muitos cafés, muitas tardes passadas em amena cavaqueira para quem me visses.
Muitas vezes desanimei achando que era escusado. Que eu era absolutamente invisível para ti e que continuaria a ser para sempre. Olhava para mim e pensava como seria possível não me veres da mesma maneira que eu te via a ti. Que teria eu de errado? Perguntava-me muitas e muitas vezes. Depois percebia que era normal. Eu era invisível para ti assim como tu tinhas sido para mim durante muitos anos.
Agora deves estar a pensar que enlouqueci com esta história de estarmos juntos no café e nunca nos termos visto. É verdade. É a mais pura verdade. Estamos junto de tanta gente, falamos, rimos, até dizemos umas graças, mas a verdade é que não vemos a pessoa com olhos de ver. Vamos vendo no meio da névoa que nos protege dos outros. Foi isso sempre que nos aconteceu até aquele dia. Não fizeste nada de especial, nem te vestiste de forma especial, e nem tão pouco tiraste a roupa. Também não dançaste comigo nem me mandaste um piropo. Mas algo aconteceu numa fracção de segundo, algo mudou, como se estivesse às escuras e de repente se tivesse feito luz. Foi algo que disseste sobre um filme que ambos tínhamos visto há anos, ainda nem sonhávamos conhecermo-nos, e foi isso mesmo que achei extraordinário, o termos gostado da mesma cena como se a tivéssemos visto juntos e tivéssemos então rido juntos. Foi como uma revelação. Como se naquele momento o mundo tivesse posto a descoberto a verdade. O mundo parecia dizer: é este, é este o homem certo para ti.
No entanto nada aconteceu. O mundo revelou-me a verdade mas não fez o mesmo contigo. Logo eu passei a ver-te mas fiquei invisível para ti, tanto como antes.
Depois desse dia, só me apeteceu estar onde tu estivesses e só me apeteceu ouvir-te falar das coisas que eu também sabia e mais ninguém parece saber. Só me apeteceu dizer-te que gosto de ti e obrigar-te a olhar-me verdadeiramente. Ver que me vias através da névoa dos teus olhos fazia-me chorar. Sofri. Muito.
Um dia, uns meses mais tarde aconteceu. Viste-me finalmente. Nem sabes como fiquei feliz. Exultante. Como me apeteceu dar pulos de contente. Não viste, já te tinhas ido embora, mas fui passear logo a seguir perto da praia e distribui sorrisos como se fosse o dia mundial do sorriso.
Parece estranho que uma mesma pessoa possa entrar na nossa vida duas vezes, mas é mesmo assim. Tu com conseguiste essa proeza. Entraste na minha vida como amigo e depois como meu querido companheiro na grande viagem da vida. Há pessoas assim, especiais, que depois de entraram na nossa vida jamais poderão sair. Tu já sabes que és uma delas. É por isso que te digo… agora que te encontrei jamais te deixarei partir….
Texto de ficção escrito para a “Fábrica das Histórias” por Cláudia Moreira
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