Beijos, muitos,
Com amor.
c.m.
Post-scriptum: Já tinha dobrado a folha em três com todo o cuidado… Já a tinha colocado dentro de um dos envelopes especiais que uso para te escrever... Já tinha decidido não pensar mais em ti… Já tinha despido a roupa que tinha usado nesse dia que ainda trazia o teu perfume. Já tinha entrado na banheira, o vapor da agua quente a envolver-me o corpo… já sentia a água a cair no cabelo, nas costas, no peito, a descer pela barriga, a passar livremente pelo pequeno triangulo negro, a descer numa carícia longa pelas coxas e sempre até aos pés… E foi então que senti uma vontade incontrolável de te ter perto… De sentir novamente as tuas mãos macias no meu corpo, fazendo-o sentir coisas que mais ninguém fazia sentir… De sentir o teu beijo lento, quase tântrico… de sentir a tua urgência ali tão perto da minha urgência… Fechei os olhos e imaginei que estavas ali comigo…que me dizias que era tudo um engano e que querias fazer amor comigo uma única vez a noite toda ou muitas vezes na noite toda… e que não importava que não dormíssemos nem importava que gritássemos e não importava que relampejasse e trovejasse, nem importava que o mundo acabasse…E beijavas-me a boca, o pescoço, o peito e todo o meu corpo… E dizias que me amavas... Que me amarias para sempre...
Depois abri os olhos e estava sozinha e a água continuava a correr pelo meu corpo e a desaparecer no ralo da banheira… Envolvi-me numa toalha que tinha sido a tua toalha e ainda molhada escrevi estas palavras…Não sei a razão mas apeteceu-me partilhá-las contigo. Por isso abri novamente o envelope, desdobrei a carta e agora escrevo-as… São para ti… São para que saibas que jamais te esquecerei…
No meu corpo estás tu
Dentro de mim, fora de mim, em mim…
Para sempre…
Nos meus lábios o gosto adocicado
Dos teus lábios carinhosos… ansiosos…
Para sempre…
Na minha boca ainda a tua língua
Segura e quente… num pedido urgente…
Para sempre…
Na textura dos meus dedos
Os teus dedos suaves… irrequietos…
Para sempre…
Nos meus ouvidos o som da tua voz
Quente, envolvente a dizer palavras de amor…
Para sempre.
Nos meus negros e longos caracóis rebeldes
Ainda a urgência quase bruta dos teus dedos…
Para sempre.
O teu perfume aprisionado em cada poro
Da minha pele, agrilhoando-se a cada fino pêlo meu…
Para sempre…
Na minha branca epiderme estás tu
Intensa e profundamente tatuado…
Para sempre.
Para sempre.
A minha palavra para ti é amor. Depois mais duas: para sempre!
Beijos com sabor a saudades perpétuas...
Com amor.
c.m.
Texto de ficção escrito por Cláudia Moreira para a Fábrica das histórias
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.