imagem retirada da net
Quando o despertador me acordou eu não imaginei tudo o que iria acontecer naquele dia. Antes pelo contrário, imaginei mais uma monótona segunda-feira no escritório, onde o curso das rotinas seguiria sem qualquer alteração. Só este pensamento me fez fazer uma careta. Como detestei sempre a rotina e as coisas normais! Mas fui obrigada a saltar da cama, tomar banho rapidamente e sair para a rua, porque não queria de todo chegar atrasada logo à segunda-feira.
Na rua não vi o meu carro no sítio do costume e assustei-me. Depois lembrei-me que o tinha deixado em frente ao restaurante onde tinha jantado na noite anterior. Não o tinha querido trazer devido aos dois copos de champanhe que tinha bebido em brindes sucessivos aos amigos que casariam dali a poucos dias. Por isso aproveitei boleia do Jorge e deixei o carro no restaurante.
Já tinha a mão levantada para chamar um táxi quando vi o Jorge. Jorge é o meu namorado e gosto de pensar que um dia será meu marido. Sei que fiz uma cara estranha porque ele riu-se e fez-me sinal para entrar. Explicou-me que me daria boleia para o escritório uma vez que sabia que eu estava sem carro. Fiquei contente porque já estava ligeiramente atrasada e se tivesse que esperar pelo táxi seria bem pior.
Foi mais ou menos dez minutos depois que me apercebi que não estávamos a caminho do escritório. Fiquei aflita, mas o Jorge mandou-me calar com um sorriso encantador. Desarmou-me, sem contudo me deixar tranquila. Mais um minuto e eu voltámos a tentar falar, mas mais uma vez ele voltou a mandar-me calar com um shiu ruidoso e um erguer de sobrancelhas engraçado. Por esta altura já estávamos a entrar na auto-estrada e eu a pensar que o meu atinadinho namorado tinha perdido a cabeça de vez! Suspirei e tentei perceber o que se estaria a passar ali. Jorge continuava a sorrir como se nada do que estava a acontecer fosse estranho. Eu confesso que naquela altura já estava seriamente preocupada. No entanto não quis parecer histérica e a com a voz mais calma do mundo tentei perguntar novamente o que se estava a passar. Mas o Jorge continuava alegremente misterioso, o que me estava a incomodar ainda mais. Isto nem sequer era do feitio dele! Costumava ser sempre tão certinho e responsável…
Foi mais ou menos por essa altura que saímos em direcção a Aveiro e eu já muda de aborrecimento e preocupação deixei-me ir sem refilar. Estacionamos perto da ria e ele convidou-me a sair. O tempo estava ligeiramente encoberto sem estar no entanto desagradável. Ele deu-me a mão a sorriu. Creio que lhe estava a dar um certo gozo a minha cara de aflição. Caminhamos em direcção à ponte pequena mesmo no centro da cidade, mas antes de lá chegar paramos perto de um dos moliceiros. O colorido barco estava enfeitado com grinaldas de flores frescas e o dono do barco fez-me sinal para entrar. Eu cada vez entendia menos. A que propósito é que haveríamos de passear num moliceiro a uma segunda-feira de manha cedo? Estava absolutamente atónita com tudo o que estava a acontecer. Entramos no barco os dois e o comandante da pequena embarcação manobrou-a com destreza para o meio da ria. Andamos uns metros calados embora eu tivesse mil perguntas para fazer! E ele sempre de sorriso colado na boca…
Foi então que os vi a todos dentro de um outro moliceiro cheios de grinaldas de flores. Uns metros à frente estavam dez ou doze dos nossos amigos que tinham estado no jantar da noite anterior. Bateram palmas à nossa chegada e eu não consegui articular nenhuma palavra. Estava estupefacta!
- Querida…queres casar comigo?
Sem eu dar conta ele tinha tirado um anel do bolso. Um belíssimo anel de noivado!
- Então meu amor? Não dizes nada….
Eu não conseguia. Estava aflita, admirada, feliz, preocupada, num misto de sentimentos que não conseguia controlar.
Depois disse sim. Claro que disse sim. E depois, bem mais tarde, Jorge explicou-me que depois do jantar de noivado dos nossos amigos só conseguiu pensar em pedir-me em casamento e viver comigo para sempre. Depois tomou a decisão que não podia esperar nem mais um dia e por isso tinha passado a noite em claro a preparar tudo. Tinha ido falar com os donos dos moliceiros, tinha tido que arranjar maneira de conseguir um anel de noite, e ainda de arranjar forma de eu não precisar de ir trabalhar nesse dia. Foi uma grande corrida contra o tempo, mas a verdade é que contra todas as expectativas ele conseguiu pedir-me em casamento. E eu aceitei. E casamos. E posso dizer que somos felizes…e que nunca esquecerei aquela segunda-feira que supostamente era uma segunda-feira como outra qualquer…
Texto de ficção escrito por Cláudia Moreira para a Fábrica de Histórias.
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. Uma segunda-feira como ou...